Intervenção de Jerónimo de Sousa

<font color=0093dd>Levantar bem alto a bandeira<br>que sempre nos guiou</font>

Sempre, mesmo nas mais di­fí­ceis e exi­gentes con­jun­turas, não deixou o nosso Par­tido de as­si­nalar e ce­le­brar esse acon­te­ci­mento maior da nossa época con­tem­po­rânea – a Re­vo­lução So­ci­a­lista de Ou­tubro de 1917, ma­te­ri­a­li­zando o mi­lenar sonho de eman­ci­pação e de li­ber­tação de ge­ra­ções de ex­plo­rados e opri­midos!

Nas­cido sob o seu im­pulso gal­va­ni­zador e por ex­clu­siva von­tade e de­cisão da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, o PCP as­sumiu em todo o per­curso da sua his­tória ímpar, não apenas o seu dever in­ter­na­ci­o­na­lista de so­li­da­ri­e­dade com aqueles que to­maram nas mãos esse he­róico em­pre­en­di­mento li­ber­tador, mas igual­mente a res­pon­sa­bi­li­dade de dar a co­nhecer aos tra­ba­lha­dores e ao nosso povo o sig­ni­fi­cado, re­a­li­za­ções e con­quistas dessa Re­vo­lução que rasgou os ca­mi­nhos para a cons­trução de uma so­ci­e­dade nova nunca antes co­nhe­cida pela hu­ma­ni­dade e que in­flu­en­ciou al­te­ra­ções pro­fundas no mundo a favor dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

No mo­mento em que se apro­xima 2017, ano em que passam cem anos desse his­tó­rico acon­te­ci­mento que abalou o mundo as­sente na ex­plo­ração, mais uma vez to­mamos para nós essa res­pon­sa­bi­li­dade con­ce­bendo o amplo e di­ver­si­fi­cado pro­grama co­me­mo­ra­tivo que se acabou de apre­sentar, a ini­ciar logo em Ja­neiro e que terá a 7 de No­vembro um dos seus mo­mentos altos com a re­a­li­zação do Co­mício do Cen­te­nário.

Co­me­mo­ra­ções que as­sumem um re­no­vado sig­ni­fi­cado no tempo pre­sente, em que os tra­ba­lha­dores e os povos são con­fron­tados com a au­sência dessa re­a­li­dade que emergiu da Re­vo­lução de Ou­tubro – a União das Re­pú­blicas So­ci­a­listas So­vié­ticas (URSS) – que se havia afir­mado como uma força mun­dial do pro­gresso, da paz e da ami­zade entre os povos e cons­tatam dra­ma­ti­ca­mente não apenas quanto o mundo está hoje mais in­justo, in­se­guro e pe­ri­goso, menos pa­cí­fico e menos de­mo­crá­tico, mas também quanto essa au­sência se tra­duziu no agra­va­mento das per­ver­sões do sis­tema ca­pi­ta­lista e no acen­tuar da sua na­tu­reza ex­plo­ra­dora, opres­sora, agres­siva e pre­da­dora, com os trá­gicos fla­gelos so­ciais e ame­aças que en­cerram para a vida dos povos e para a so­bre­vi­vência da pró­pria hu­ma­ni­dade – um recuo his­tó­rico que com­prova a im­por­tância e al­cance dos ob­jec­tivos da Re­vo­lução de Ou­tubro e do so­ci­a­lismo como exi­gência da ac­tu­a­li­dade e do fu­turo.

É le­van­tando bem alto a ban­deira que sempre nos guiou e que co­loca o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo no ho­ri­zonte da nossa luta que afir­mamos que temos hoje, têm os tra­ba­lha­dores e os povos, ra­zões acres­cidas para fazer do Cen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro um mo­mento de re­a­fir­mação do valor dessa re­a­li­zação sem pre­ce­dente his­tó­rico que marcou o sé­culo XX e se pro­jectou em todo o pla­neta como força pro­pul­sora de gi­gan­tescas trans­for­ma­ções po­lí­ticas e so­ciais.

Com­bate ide­o­ló­gico

Par­ti­remos, por isso, para estas co­me­mo­ra­ções afir­mando a Re­vo­lução de Ou­tubro como a re­a­li­zação mais avan­çada no pro­cesso mi­lenar de li­ber­tação da hu­ma­ni­dade de todas as formas de ex­plo­ração e opressão, hon­rando e ho­me­na­ge­ando os seus obreiros, as grandes con­quistas e re­a­li­za­ções po­lí­ticas, eco­nó­micas, so­ciais, cul­tu­rais, ci­en­tí­ficas e ci­vi­li­za­ci­o­nais do so­ci­a­lismo na URSS e o seu imenso con­tri­buto para o avanço da luta eman­ci­pa­dora dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

Re­a­fir­mando não apenas a va­li­dade do so­ci­a­lismo como so­lução para dar res­posta aos grandes pro­blemas dos povos e da hu­ma­ni­dade, mas de­mons­trando a ne­ces­si­dade e pos­si­bi­li­dade da su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária do ca­pi­ta­lismo pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

Co­me­mo­ra­remos o Cen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro afir­mando e va­lo­ri­zando o papel da classe ope­rária, dos tra­ba­lha­dores e dos povos, da sua uni­dade, or­ga­ni­zação e luta no pro­cesso de trans­for­mação so­cial e, par­ti­cu­lar­mente, o papel his­tó­rico da classe ope­rária e dos seus ali­ados nessa re­a­li­zação pi­o­neira e no porvir da so­ci­e­dade nova, sem classes so­ciais an­ta­gó­nicas e li­berta da ex­plo­ração do homem por outro homem.

Fa­remos das co­me­mo­ra­ções um mo­mento de afir­mação da im­por­tância da luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos e do seu de­ter­mi­nante papel, aqui e agora, para ga­rantir o êxito do com­bate à ac­tual ofen­siva do grande ca­pital, do im­pe­ri­a­lismo, e da con­quista da sua eman­ci­pação so­cial e na­ci­onal.

Co­me­mo­ra­remos este Cen­te­nário com os olhos postos na evo­lução do pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário mun­dial, os seus avanços e re­cuos, e co­lhendo a ex­pe­ri­ência desse au­da­cioso pro­jecto po­lí­tico que re­es­tru­turou a so­ci­e­dade em função do in­te­resse dos tra­ba­lha­dores e da es­ma­ga­dora mai­oria do povo na União So­vié­tica e nos ou­tros países so­ci­a­listas, tendo pre­sente os seus êxitos e der­rotas, re­flec­tindo, co­lhendo e uti­li­zando os en­si­na­mentos dos com­plexos pro­cessos de edi­fi­cação da nova so­ci­e­dade que se de­sen­vol­veram pi­sando ter­reno des­co­nhe­cido e novo, e com eles con­ti­nuar e for­ta­lecer a nossa luta de hoje pelos su­premos ob­jec­tivos de sempre, fiéis que somos aos ideais de Ou­tubro.

Par­ti­remos para as co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário, en­fren­tando os de­trac­tores da his­tória e uma pre­vi­sível e re­do­brada ofen­siva ide­o­ló­gica anti-co­mu­nista de des­fi­gu­ra­mento da Re­vo­lução de Ou­tubro, da sub­se­quente ex­pe­ri­ência his­tó­rica de cons­trução do so­ci­a­lismo e do papel dos co­mu­nistas na his­tória con­tem­po­rânea para tentar evitar que os tra­ba­lha­dores e os povos te­nham a com­pre­ensão e a cons­ci­ência que existe al­ter­na­tiva ao ca­pi­ta­lismo – a esse sis­tema que ex­pro­pria di­reitos so­ciais e ci­vi­li­za­ci­o­nais e leva a guerra a vá­rias partes do globo, sempre em nome de mais e mais lucro.

Par­ti­remos para esse com­bate apre­sen­tando o acervo de re­a­li­za­ções, con­quistas e trans­for­ma­ções pro­gres­sistas para a li­ber­tação e o bem do homem que pela acção dos co­mu­nistas mar­caram o úl­timo sé­culo, en­vol­vendo todo o pla­neta e com os ins­tru­mentos teó­ricos do mar­xismo-le­ni­nismo em de­fesa do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo, e na de­núncia das raízes e do papel do an­ti­co­mu­nismo e do anti-so­vi­e­tismo como uten­sí­lios do ca­pital e ao seu ser­viço da ide­o­logia e in­te­resses do­mi­nantes.

Par­ti­remos para as co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro re­a­fir­mando o seu ca­rácter uni­versal, a sua cor­res­pon­dência com as exi­gên­cias do de­sen­vol­vi­mento so­cial que inau­gura uma nova época his­tó­rica – a época da pas­sagem do ca­pi­ta­lismo ao so­ci­a­lismo – , não um aci­dente da his­tória ou um fe­nó­meno es­pe­ci­fi­ca­mente russo, o acto e o pro­cesso que se ini­ciou no dia 7 de No­vembro de 1917 (25 de Ou­tubro no an­tigo ca­len­dário russo), como pre­tendem e di­fundem os seus fal­si­fi­ca­dores e mis­ti­fi­ca­dores.

Di­mensão his­tó­rica uni­versal

A Re­vo­lução de Ou­tubro tem ca­rac­te­rís­ticas pró­prias re­sul­tantes da his­tória, da cul­tura, das tra­di­ções, da re­a­li­dade socio-eco­nó­mica da so­ci­e­dade russa e do im­pério cza­rista, sem dú­vida, mas o que a marca in­ques­ti­o­na­vel­mente é a sua di­mensão his­tó­rica uni­versal.

Ela foi pre­pa­rada por toda a marcha do de­sen­vol­vi­mento do ca­pi­ta­lismo mun­dial na sua fase im­pe­ri­a­lista que Lé­nine des­vendou, par­tindo das teses e ins­tru­mentos de aná­lise de­sen­vol­vidos por Marx e En­gels e tornou-se um re­sul­tado ine­vi­tável da si­tu­ação re­vo­lu­ci­o­nária que se gerou na so­ci­e­dade russa e da acção cons­ci­ente do pro­le­ta­riado russo e do seu Par­tido – o Par­tido Bol­che­vique – guiado por uma te­oria re­vo­lu­ci­o­nária, com o no­tável con­tri­buto de Lé­nine, e que lhes per­mitiu «con­quistar o céu», to­mando nas mãos o seu des­tino, as­cen­dendo ao poder e lan­çando, numa re­vo­lução vi­to­riosa, as bases de uma nova so­ci­e­dade, num país di­la­ce­rado pela I Grande Guerra im­pe­ri­a­lista, com um povo fus­ti­gado pela ex­plo­ração, a re­pressão, a fome e o anal­fa­be­tismo.

Uma Re­vo­lução que abrangeu em si os an­seios da luta mi­lenar dos ex­plo­rados e opri­midos, desde as ime­mo­riais re­voltas dos es­cravos na An­ti­gui­dade às in­sur­rei­ções ope­rá­rias do sé­culo XIX.

A Re­vo­lução de Ou­tubro teve como an­te­ce­dentes his­tó­ricos, dos quais re­tirou im­por­tantes en­si­na­mentos, ou­tras ex­pe­ri­ên­cias re­vo­lu­ci­o­ná­rias que vão da Co­muna de Paris de 1871 à Re­vo­lução russa de 1905 – a pri­meira grande re­vo­lução po­pular com o papel or­ga­ni­zado da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores – pas­sando pela Re­vo­lução de Fe­ve­reiro de 1917, que marcou o fim do poder cza­rista.

Foi a pri­meira re­vo­lução so­ci­a­lista vi­to­riosa em que pela pri­meira vez a classe ope­rária e os seus ali­ados con­quis­taram o poder e com esse poder con­quis­tado en­ce­taram um ex­tra­or­di­nário pro­cesso de trans­for­mação so­cial, onde mi­lhões de seres hu­manos ou­trora ex­cluídos e es­po­li­ados de qual­quer in­ter­venção po­lí­tica e so­cial se tor­naram pro­ta­go­nistas e obreiros do seu pró­prio fu­turo. Uma Re­vo­lução que en­frentou sa­bo­ta­gens, in­ter­venção de po­tên­cias im­pe­ri­a­listas, guerra civil, blo­queio eco­nó­mico, mas que cedo em­pre­endeu a ta­refa de pôr fim a todas as formas de ex­plo­ração e opressão so­cial e na­ci­onal, tendo adop­tado entre as suas pri­meiras me­didas os de­cretos sobre a paz e sobre a abo­lição da pro­pri­e­dade la­ti­fun­diária da terra, con­fir­mando o emi­nente ca­rácter hu­ma­nista e pro­gres­sista da Re­vo­lução de Ou­tubro.

A Re­vo­lução So­ci­a­lista trans­formou a velha e atra­sada Rússia dos czares num país al­ta­mente de­sen­vol­vido, capaz de conter, como con­teve du­rante dé­cadas, o ob­jec­tivo de do­mínio mun­dial do im­pe­ri­a­lismo.

A URSS, num curto pe­ríodo de tempo his­tó­rico, al­cançou um sig­ni­fi­ca­tivo de­sen­vol­vi­mento in­dus­trial e agrí­cola, er­ra­dicou o anal­fa­be­tismo e ge­ne­ra­lizou a es­co­la­ri­zação e o des­porto, eli­minou o de­sem­prego, ga­rantiu e pro­moveu os di­reitos das mu­lheres, das cri­anças, dos jo­vens e dos idosos, o de­sen­vol­vi­mento de múl­ti­plas formas de ex­pressão ar­tís­tica, con­quistou um ele­vado nível ci­en­tí­fico e téc­nico, co­locou em prá­tica formas de par­ti­ci­pação de­mo­crá­tica dos tra­ba­lha­dores e das massas po­pu­lares, em­pre­endeu a so­lução da com­plexa questão de na­ci­o­na­li­dades opri­midas, in­cre­mentou os va­lores da ami­zade, da so­li­da­ri­e­dade, da paz e co­o­pe­ração entre os povos.

Foi a União So­vié­tica o pri­meiro país do mundo a pôr em prá­tica ou a de­sen­volver como ne­nhum outro di­reitos so­ciais fun­da­men­tais, como o di­reito ao tra­balho, a jor­nada má­xima de 8 horas de tra­balho, as fé­rias pagas, a igual­dade de di­reitos de ho­mens e mu­lheres na fa­mília, na vida e no tra­balho, os di­reitos e pro­tecção da ma­ter­ni­dade, o di­reito à ha­bi­tação, a as­sis­tência mé­dica gra­tuita, o sis­tema de se­gu­rança so­cial uni­versal e gra­tuito, e a edu­cação gra­tuita.

Avanços e re­cuos

A União So­vié­tica al­cançou êxitos e con­quistas de grande pro­jecção in­ter­na­ci­onal, que es­ti­mu­laram a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos de todo o mundo.

As trans­for­ma­ções e re­a­li­za­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias, a sua força de exemplo per­mi­tiram que se al­can­çassem im­por­tantes con­quistas so­ciais em países ca­pi­ta­listas de­sen­vol­vidos, onde as classes do­mi­nantes re­ce­avam novas re­vo­lu­ções so­ciais.

A URSS, o povo so­vié­tico, o Exér­cito Ver­melho, deram um con­tri­buto de­ter­mi­nante para a vi­tória sobre o nazi-fas­cismo na Se­gunda Guerra Mun­dial, numa he­róica luta que lhes custou mais de vinte mi­lhões de vidas.

Após a vi­tória sobre o nazi-fas­cismo, pelo seu exemplo e enorme pres­tígio, pela força das ideias do so­ci­a­lismo que pro­jectou, pela so­li­da­ri­e­dade e in­ter­venção na po­lí­tica in­ter­na­ci­onal, a URSS deu um grande apoio aos povos que op­taram e lu­taram pela cons­trução de so­ci­e­dades so­ci­a­listas, à luta e con­quista por parte de mi­lhões de tra­ba­lha­dores de di­reitos e li­ber­dades em países ca­pi­ta­listas e à di­nâ­mica e luta do mo­vi­mento de li­ber­tação na­ci­onal, ao ruir do co­lo­ni­a­lismo e à con­quista da in­de­pen­dência de nu­me­rosos povos e na­ções se­cu­lar­mente sub­me­tidas ao jugo co­lo­nial.

A União So­vié­tica foi so­li­dária com os co­mu­nistas e o povo por­tu­guês na sua luta contra a di­ta­dura fas­cista em Por­tugal e com a Re­vo­lução de Abril – re­a­li­zação do povo por­tu­guês, afir­mação de li­ber­dade, de eman­ci­pação so­cial e de in­de­pen­dência na­ci­onal.

A URSS e o sis­tema so­ci­a­lista foram fac­tores, muitas vezes de­ter­mi­nantes, nas con­quistas e avanços pela pri­meira vez al­can­çados pelos tra­ba­lha­dores e os povos na sua luta de eman­ci­pação a nível mun­dial.

Uma luta que so­freu um pro­fundo revés com as der­rotas do so­ci­a­lismo na URSS e no Leste da Eu­ropa nos úl­timos anos do sé­culo pas­sado, re­sul­tantes de fac­tores de ordem in­terna e ex­terna e da cris­ta­li­zação de um «mo­delo» que se afastou e en­trou mesmo em con­tra­dição com as ca­rac­te­rís­ticas fun­da­men­tais da so­ci­e­dade so­ci­a­lista, onde pesa, entre ou­tras causas da der­rota, o en­fra­que­ci­mento da na­tu­reza po­pular do poder po­lí­tico, um poder que cres­cen­te­mente se afastou da opi­nião, con­trolo e in­ter­venção dos tra­ba­lha­dores e das massas po­pu­lares.

Não é na Re­vo­lução de Ou­tubro que se deve pro­curar a origem das des­fi­gu­ra­ções, erros e des­vios que con­du­ziram à trá­gica der­rota da URSS como a mis­ti­fi­ca­dora cam­panha ide­o­ló­gica dos de­fen­sores do ca­pi­ta­lismo do­mi­nante pro­palam, mas na ne­gação dos prin­cí­pios fun­da­men­tais do ideal co­mu­nista e dos ob­jec­tivos que con­du­ziram à sua re­a­li­zação.

Mas se a Re­vo­lução de Ou­tubro re­pre­sentou um ex­tra­or­di­nário im­pulso à luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos, a vi­tória da contra-re­vo­lução na URSS e a sua des­truição, ti­veram um pro­fundo im­pacto ne­ga­tivo na cor­re­lação de forças mun­dial, na cons­ci­ência das massas e no de­sen­vol­vi­mento da luta pelo so­ci­a­lismo.

O mundo ficou ex­posto mais pe­ri­go­sa­mente à ló­gica ex­plo­ra­dora e agres­siva do grande ca­pital, e os tra­ba­lha­dores e os povos dos países que so­freram di­rec­ta­mente esse pro­fundo revés com a res­tau­ração ca­pi­ta­lista que se tra­duziu num enorme recuo nas con­di­ções po­lí­ticas, eco­nó­micas, so­ciais e cul­tu­rais dos povos desses países, mas também nas de ou­tros povos do mundo.

A evo­lução mun­dial destes úl­timos anos, no se­gui­mento das der­rotas do so­ci­a­lismo, re­velou assim, ainda mais, a im­por­tância das his­tó­ricas re­a­li­za­ções do so­ci­a­lismo e dos avanços ci­vi­li­za­ci­o­nais que lhe estão as­so­ci­ados, e pôs em evi­dência a su­pe­ri­o­ri­dade do novo sis­tema so­cial na re­so­lução dos pro­blemas e con­cre­ti­zação das as­pi­ra­ções dos povos.

Ca­pi­ta­lismo é ex­plo­ração

Uma evo­lução e uma re­a­li­dade que des­men­tiram os que apre­sen­tavam o ca­pi­ta­lismo como o «fim da his­tória» e o pro­jec­tavam como o grande pro­ta­go­nista da marcha triunfal no ca­minho para a de­mo­cracia uni­versal, li­berto de guerras e de crises.

Nem a na­tu­reza do ca­pi­ta­lismo se al­terou, nem se mos­trou ou mostra capaz de re­solver os grandes pro­blemas da hu­ma­ni­dade, antes pelo con­trário, mais li­berto e menos con­di­ci­o­nado, ha­veria de con­frontar os tra­ba­lha­dores e os povos com mais bru­tais e de­su­manas con­sequên­cias.

Mer­gu­lhado numa das suas mais pro­fundas crises – uma pro­funda crise es­tru­tural – o ca­pi­ta­lismo nada mais tem a ofe­recer aos povos se não o agra­va­mento da ex­plo­ração, o de­sem­prego, a pre­ca­ri­e­dade, o au­mento das in­jus­tiças e de­si­gual­dades so­ciais, o ataque a di­reitos so­ciais e la­bo­rais, a ne­gação de li­ber­dades e di­reitos de­mo­crá­ticos, a usur­pação e des­truição de re­cursos, a in­ge­rência e a agressão à so­be­rania na­ci­onal, o mi­li­ta­rismo e a guerra.

Guerra que surge cada vez mais como a res­posta do im­pe­ri­a­lismo à crise do seu sis­tema de ex­plo­ração e opressão. Hoje, mi­lhões de seres hu­manos são ví­timas das agres­sões im­pe­ri­a­listas, fogem da guerra e da des­truição, e povos in­teiros são con­de­nados ao sub­de­sen­vol­vi­mento, à de­pen­dência, à opressão na­ci­onal.

Con­sequên­cias bru­tais na vida da hu­ma­ni­dade que re­velam quanto exa­ge­radas e ex­tra­va­gantes eram as pro­cla­ma­ções dos seus de­fen­sores que pe­rante as der­rotas do so­ci­a­lismo se apres­saram a apre­sentá-lo como o sis­tema ter­minal da his­tória.

In­capaz de ul­tra­passar as in­sa­ná­veis con­tra­di­ções ine­rentes ao seu «có­digo ge­né­tico», in­sa­ciável na avidez de apro­pri­ação e acu­mu­lação de ca­pital sem li­mites, o ca­pi­ta­lismo é um sis­tema que está per­ma­nen­te­mente em con­fronto com as ne­ces­si­dades, os in­te­resses, as as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

Por isso, mais do que nunca, o so­ci­a­lismo emerge com re­do­brada ac­tu­a­li­dade e ne­ces­si­dade no pro­cesso de eman­ci­pação dos tra­ba­lha­dores e dos povos, e que o PCP as­sume como um ob­jec­tivo su­premo no seu Pro­grama.

Pro­grama que «aponta como ob­jec­tivos fun­da­men­tais da re­vo­lução so­ci­a­lista em Por­tugal a abo­lição da ex­plo­ração do homem pelo homem, a cri­ação de uma so­ci­e­dade sem classes an­ta­gó­nicas ins­pi­rada por va­lores hu­ma­nistas, a de­mo­cracia com­pre­en­dida na com­ple­men­ta­ri­dade das suas ver­tentes eco­nó­mica, so­cial, po­lí­tica e cul­tural, a in­ter­venção per­ma­nente e cri­a­dora das massas po­pu­lares em todos os as­pectos da vida na­ci­onal, a ele­vação cons­tante do bem-estar ma­te­rial e es­pi­ri­tual dos tra­ba­lha­dores e do povo em geral, o de­sa­pa­re­ci­mento das dis­cri­mi­na­ções, de­si­gual­dades, in­jus­tiças e fla­gelos so­ciais, a con­cre­ti­zação na vida da igual­dade de di­reitos do homem e da mu­lher, e a in­serção da ju­ven­tude na vida do País, como força so­cial di­nâ­mica e cri­a­tiva».

A ac­tu­a­li­dade do so­ci­a­lismo e a sua ne­ces­si­dade como so­lução para os pro­blemas dos povos por esse mundo fora exige ter em conta uma grande di­ver­si­dade de so­lu­ções, etapas e fases da luta re­vo­lu­ci­o­nária, certos de que não há «mo­delos» de re­vo­lu­ções, nem «mo­delos» de so­ci­a­lismo, como sempre o PCP de­fendeu e Lé­nine avi­sa­da­mente previu que todos os povos che­ga­riam ao so­ci­a­lismo, mas cada um o faria a seu modo!

De­mo­cracia avan­çada e so­ci­a­lismo

Foi a partir da re­a­li­dade por­tu­guesa, mas as­si­mi­lando cri­ti­ca­mente a ex­pe­ri­ência re­vo­lu­ci­o­nária mun­dial que de­fi­nimos no nosso Pro­grama de Par­tido o ca­minho da sua con­cre­ti­zação, as etapas in­ter­mé­dias na luta pelo so­ci­a­lismo, de­ter­mi­nando os cor­res­pon­dentes ob­jec­tivos e ali­anças.

Nas con­di­ções de Por­tugal, que co­nheceu uma re­vo­lução pro­funda cujas re­a­li­dades, ex­pe­ri­ên­cias e va­lores con­ti­nuam a marcar a luta do nosso povo a so­ci­e­dade so­ci­a­lista que o PCP aponta ao nosso povo, passa pela etapa que ca­rac­te­ri­zámos de uma De­mo­cracia Avan­çada, ela mesma parte in­te­grante da luta pelo so­ci­a­lismo.

No seu Pro­grama «Uma de­mo­cracia avan­çada – Os va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal», o PCP con­si­dera que a re­a­li­zação de tal pro­jecto cons­titui um pro­cesso de pro­funda trans­for­mação e de­sen­vol­vi­mento que res­ponde às ne­ces­si­dades con­cretas da so­ci­e­dade por­tu­guesa para a ac­tual etapa his­tó­rica.

Um Pro­grama cuja con­cre­ti­zação é ob­jec­ti­va­mente do in­te­resse de todos os tra­ba­lha­dores e do con­junto de todas as classes e ca­madas so­ciais an­ti­mo­no­po­listas, cuja de­fi­nição bá­sica as­senta na con­cepção de que a de­mo­cracia é si­mul­ta­ne­a­mente po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial e cul­tural.

O pro­jecto de De­mo­cracia Avan­çada e a sua re­a­li­zação, sendo parte in­te­grante da luta pelo so­ci­a­lismo, são igual­mente in­dis­so­ciá­veis da luta que hoje tra­vamos pela de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e pela con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda fa­zendo parte da luta pela de­mo­cracia avan­çada, assim como a luta por esta é parte in­te­grante da luta pelo so­ci­a­lismo, num pro­cesso que não se­para, antes in­tegra de forma co­e­rente o con­junto de ob­jec­tivos de luta.

Uma luta que exige um Par­tido Co­mu­nista que não ab­dica de o ser, de­ter­mi­nado, com­ba­tivo, cons­ci­ente do seu papel, firme no seu ideal e na afir­mação do seu pro­jecto trans­for­mador e re­vo­lu­ci­o­nário, e que tem sempre pre­sente no ho­ri­zonte da sua acção e in­ter­venção a cons­trução da so­ci­e­dade nova – o so­ci­a­lismo, con­dição de fu­turo in­se­pa­rável da plena li­ber­tação e re­a­li­zação hu­manas.

São muitos os pro­blemas as di­fi­cul­dades e os pro­blemas a vencer, mas é no so­ci­a­lismo e não no ca­pi­ta­lismo que os tra­ba­lha­dores e os povos en­con­trarão res­posta para as suas as­pi­ra­ções de li­ber­dade, igual­dade, jus­tiça, pro­gresso so­cial e paz.

Con­victos de que o fu­turo se con­quista com a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos e a sua so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista, fiéis aos seus ideais li­ber­ta­dores, tra­ba­lhando para o re­forço e uni­dade do mo­vi­mento co­mu­nista e re­vo­lu­ci­o­nário, co­me­mo­ramos o Cen­te­nário da Re­vo­lução de Ou­tubro re­a­fir­mando a de­ter­mi­nação ina­ba­lável do PCP de lutar para que o so­ci­a­lismo se torne uma re­a­li­dade do amanhã do povo por­tu­guês e exor­tando a que se as­so­ciem a estas co­me­mo­ra­ções todos os que de­fendem a paz, a jus­tiça e o pro­gresso so­cial e lutam por uma so­ci­e­dade de li­ber­dade e abun­dância em que o Es­tado e a po­lí­tica es­tejam in­tei­ra­mente ao ser­viço do bem-estar e da fe­li­ci­dade do ser hu­mano.

 



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